Falei na terapia sobre você
- outubro 12, 2024
Verão de 1971. Eunice Paiva, recentemente liberada de um período de prisão e interrogatório de doze dias no DOI-Codi, no Rio de Janeiro, passa uma curta temporada com amigos em Búzios.
Segundo Antonio Callado, ela respirava aliviada; o próprio ministro da Justiça havia lhe garantido que seu marido, Rubens Beyrodt Paiva, “já tinha sido interrogado, passava bem e dentro de uns dois dias estaria de volta a sua casa”.
Rubens Paiva, no entanto, capturado por homens da Aeronáutica em 20 janeiro de 1971, foi t0rturado, morto e seu corpo nunca mais foi encontrado. “A cara de Eunice”, escreve Callado, “continuou molhada e salgada durante muito tempo, tal como naquela manhã de Búzios. A água é que não era mais do mar.”
Neste livro, Marcelo Rubens Paiva faz um retrato emocionante de Eunice, sua mãe, e pela primeira vez traça uma história dramática do que ocorreu — e do que pode ter ocorrido — com Rubens Paiva.
“Meu pai, um dos homens mais simpáticos e risonhos que Callado conheceu, morria por decreto, graças à Lei dos Desaparecidos, vinte e cinco anos depois de ter morrido por t0rtura”, narra ele, neste livro magistral.
Eunice “ergueu o atestado de óbito para a imprensa, como um troféu. Foi naquele momento que descobri: ali estava a verdadeira heroína da família; sobre ela que nós, escritores, deveríamos escrever”.
Marcelo Rubens Paiva formou-se em rádio e TV pela Universidade de São Paulo (USP) e em teoria literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).[9] Em 1986, lançou seu segundo romance: Blecaute.
Passou a trabalhar em televisão como diretor, apresentador e produtor. Primeiro, na TVA, da TV Gazeta, junto com Fernando Meirelles e a produtora Olhar Eletrônico. Depois, na TV Cultura, no programa Leitura Livre.
Desde 1989, depois que estudou dramaturgia no Centro de Pesquisa Teatral do Serviço Social do Comércio, com o diretor de teatro Antunes Filho, na cidade de São Paulo, passou a escrever para teatro. Estreou com a peça 525 Linhas, dirigida por Ricardo Karman, em 1989.
Em 1990, lançou o romance Ua Brari. Começou a trabalhar como colunista do jornal Folha de S. Paulo. Em 1992, lançou o romance policial Bala na Agulha, inspirado na corrupção dos políticos de Brasília e Caixa 2. Entre 1991 e 1994, apresentou o Fanzine, um programa de entrevistas na TV Cultura.[10] Em 1994, lançou As Fêmeas, um ensaio sobre sexualidade,[11] coletânea de contos e colunas publicadas em jornais.
Foi morar nos Estados Unidos, como bolsista da Knight Fellowship da Stanford University, na Califórnia, entre 1994 e 1995, então casado com a psicóloga Adriana Braga.
Estreou na carreira literária com "Feliz Ano Velho", livro em que relata o acidente que o deixou tetraplégico e que se tornou um best-seller. Trinta e três anos depois, ele assina um novo relato autobiográfico, "Ainda Estou Aqui", sobre o desaparecimento do pai, o deputado federal Rubens Paiva, cassado no golpe militar de 1964 e torturado e morto por militares em 1971.
"A morte do meu pai não tem fim", resume o autor - o pai dele foi declarado morto apenas em 2014, quando a Comissão Nacional da Verdade elucidou o que ocorreu após sua prisão.
O protagonismo desta história é dividido com a matriarca da família, Eunice, que liderou os esforços para desvendar o desaparecimento do marido e, mais tarde, assume outra batalha, dessa vez contra o Alzheimer.
"Ainda estou aqui" é o que Eunice parece murmurar contra a doença que lhe toma a lucidez - e também a mensagem de Marcelo Rubens Paiva sobre as consequências da ditadura militar.
Paiva é escritor, dramaturgo e roteirista. É autor, entre outros romances, de Blecaute, Ainda estou aqui e Do começo ao fim. Ganhou o prêmio da Academia Brasileira de Letras (ABL) pelo roteiro de Malu de bicicleta, além de três prêmios Jabuti de literatura e um Shell de teatro por Da boca pra fora.
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