A monadologia e outros textos

A Monadologia e outros textos

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Uma das principais obras deste importante filósofo do século XVII, acompanhada de textos fundamentais para a sua compreensão.

A Monadologia é uma obra filosófica de Gottfried Wilhelm Leibniz, escrita em 1714, na qual ele expõe sua concepção metafísica baseada no conceito de mônadas. As mônadas são substâncias simples, indivisíveis e imateriais que constituem a base de toda a realidade. Diferentemente dos átomos físicos, as mônadas não possuem extensão espacial e são dotadas de percepção e apetite, o que lhes confere um caráter dinâmico e ativo.

Para Leibniz, as mônadas não interagem diretamente umas com as outras. Em vez disso, sua harmonia é garantida por Deus por meio do que ele chama de "harmonia preestabelecida". Isso significa que cada mônada segue seu próprio curso interno de acordo com uma programação divina, resultando na aparência de causalidade e interação entre os fenômenos do mundo. Essa concepção permite a Leibniz reconciliar o determinismo com a liberdade, pois cada mônada age conforme sua própria natureza, sem interferência externa.

Leibniz também distingue diferentes tipos de mônadas, variando em grau de percepção. As mônadas inferiores possuem percepções confusas, como as encontradas na matéria inorgânica. Os seres vivos possuem percepções mais organizadas, e os seres racionais, como os humanos, possuem apercepção e razão, permitindo-lhes refletir sobre o mundo e sobre si mesmos.

No topo da hierarquia está Deus, a mônada suprema, que possui percepção perfeita e é a causa última da existência de todas as outras mônadas.

A Monadologia sintetiza a visão de Leibniz sobre a realidade e é uma tentativa de explicar o universo de maneira lógica e coerente. Sua influência se estende à metafísica, à teologia e até à ciência, sendo um dos textos mais importantes da filosofia racionalista do século XVII.

A presente edição (além do texto de a Monadologia) inclui os Princípios da Natureza e da Graça, Sistema Novo da Natureza, Sobre a origem fundamental das coisas, duas cartas de Leibniz a Rémond, além da célebre Nota H ao verbete Rorarius do Dicionário Histórico e Crítico, de Pierre Bayle.

Tradução de Fernando Luiz Barreto Gallas e Souza.

A Monadologia e outros textos. O autor

Nascido em 1º de julho de 1646 em Leipzig, na Alemanha, Gottfried Wilhelm Leibniz (autor de a Monadologia) emergiu como uma das mentes mais brilhantes do século XVII, atuando em disciplinas como filosofia, matemática, direito, política e teologia.

Sua obra, marcada pelo racionalismo e pela busca de síntese entre conhecimento e fé, deixou um legado que influenciou desde a metafísica até a ciência da computação.

Filho de Friedrich Leibniz, professor de filosofia moral, e Catharina Schmuck, de família erudita, Leibniz perdeu o pai aos seis anos. Autodidata precoce, dominou o latim sozinho aos oito anos e mergulhou na biblioteca paterna, absorvendo clássicos gregos e escolásticos. Aos 15 anos, ingressou na Universidade de Leipzig, graduando-se em filosofia aos 17 anos (1663) e em direito aos 20. Recusou uma cátedra em Altdorf, preferindo uma carreira prática como conselheiro político.

Em 1667, tornou-se assessor do Eleitor de Mainz, Johann Philipp von Schönborn, envolvendo-se em reformas legais e projetos diplomáticos. Em 1672, foi enviado a Paris para convencer Luís XIV a desviar suas ambições expansionistas para o Egito — plano não adotado, mas que revelou sua sagacidade estratégica. Em Paris, estudou matemática com Christiaan Huygens, aprofundando-se em séries infinitas e desenvolvendo, independentemente de Newton, o cálculo diferencial e integral (1675), cuja notação (dx, ∫) permanece em uso.

Leibniz não apenas criou o cálculo, mas também idealizou a máquina calculadora "Stepped Reckoner" (1674), capaz de multiplicar e dividir, e explorou o sistema binário (1703), base da computação moderna. Seu trabalho em dinâmica, energia cinética e lógica simbólica (antecessora da lógica matemática) destacou sua visão interdisciplinar.

Na metafísica, Leibniz propôs uma realidade composta por mônadas — substâncias simples, imateriais e autônomas, que refletem o universo harmoniosamente ("harmonia pré-estabelecida"). Em Teodiceia (1710), defendeu que vivemos no "melhor dos mundos possíveis", argumentando que o mal existe para um bem maior, ideia satirizada por Voltaire em Cândido. A Monadologia (1714) descreve um cosmos ordenado por uma razão divina, onde cada mônada é um microcosmo espiritual. A Monadologia é leitura obrigatória para entender o pensamento de Leibniz.

Como bibliotecário e historiador oficial da Casa de Brunswick em Hanover (a partir de 1676), Leibniz escreveu a história da dinastia, tarefa que limitou suas viagens. Promoveu a reconciliação entre protestantes e católicos e fundou a Academia de Ciências de Berlim (1700), defendendo colaboração científica internacional. Seus projetos de língua universal e enciclopédia do conhecimento refletiam seu ideal de unidade do saber.

Nos últimos anos, isolado em Hanover após a ascensão de George I ao trono britânico (1714), Leibniz faleceu em 14 de novembro de 1716, com pouca cerimônia. Seu legado, porém, floresceu postumamente: Kant e Russell admiraram sua lógica; o cálculo revolucionou a física; o binário fundamentou a era digital. Críticas ao seu otimismo não obscurecem sua contribuição à ética e à epistemologia.

Leibniz personificou o ideal renascentista em pleno Iluminismo, articulando fé e razão, ciência e espiritualidade. Sua busca por uma "ciência geral" que unisse todas as disciplinas antecipou interconexões modernas entre filosofia, tecnologia e ética. Hoje, universidades e institutos carregam seu nome, lembrando-nos de que a complexidade do mundo pode ser decifrada pela coerência da razão — e pela coragem de imaginar o possível.

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