A Profissão de Fé do Filósofo
- janeiro 6, 2025
A Apologia de Sócrates, escrita por Platão, é uma das obras fundamentais da filosofia ocidental e um testemunho marcante da vida e dos ideais do filósofo ateniense Sócrates.
O termo "apologia", no contexto grego, significa defesa, e não uma justificativa no sentido moderno. A obra registra o discurso que Sócrates pronunciou em 399 a.C., durante seu julgamento em Atenas, quando foi acusado de corromper a juventude e de não respeitar os deuses reconhecidos pela cidade. Por meio dessa narrativa, Platão nos oferece não apenas a visão de seu mestre, mas também um manifesto em defesa da filosofia e da busca incessante pela verdade.
A Apologia de Sócrates se destaca por sua profundidade ética e por sua reflexão sobre a vida. Ao responder às acusações, Sócrates não tenta apenas se defender, mas utiliza o momento para questionar os fundamentos da justiça, da moral e do conhecimento. Ele se apresenta como alguém que jamais pretendeu ensinar dogmas ou verdades absolutas, mas que, ao contrário, buscava provocar o pensamento crítico e a autoinvestigação.
A célebre frase "Uma vida sem exame não vale a pena ser vivida" sintetiza a essência do seu método filosófico e da sua postura diante da existência.
O texto, dividido em três partes principais, traz a argumentação de Sócrates contra as acusações, o seu discurso após a condenação e, por fim, as palavras proferidas antes da execução da sentença. Em nenhum momento ele demonstra medo da morte, mas sim uma profunda confiança de que viver com integridade e buscar a verdade é mais valioso do que prolongar a vida a qualquer custo. Para Sócrates, a filosofia é um compromisso com a alma e com o bem maior, algo que supera o interesse pessoal e o temor diante do destino.
Na primeira parte, Sócrates desmonta as acusações feitas por Meleto, Ânito e Lícon, mostrando que elas se baseiam em preconceitos e mal-entendidos. Ele explica que seu hábito de questionar os cidadãos atenienses nasceu de um oráculo de Delfos, segundo o qual não havia homem mais sábio que ele. Sócrates interpreta a mensagem do oráculo como uma missão divina: revelar que a verdadeira sabedoria consiste em reconhecer a própria ignorância. Sua vida, portanto, foi dedicada a essa tarefa de examinar a si mesmo e aos outros, uma prática que incomodou aqueles que se sentiam desafiados por suas perguntas.
Na segunda parte, após ser condenado à morte pela maioria dos jurados, Sócrates surpreende ao propor, ironicamente, que deveria receber um prêmio por servir à cidade, em vez de uma punição. Mesmo diante da condenação, ele se mantém fiel aos seus princípios, recusando-se a implorar por piedade ou a agir de forma contrária à sua consciência. Para ele, não há mal maior do que cometer injustiça, e abandonar sua missão filosófica seria trair tudo em que acredita.
Na parte final, Sócrates se despede dos presentes com serenidade, afirmando que a morte não deve ser temida, pois ninguém sabe o que ela realmente significa. Ele considera a morte como um sono profundo ou como uma passagem para outro tipo de existência, onde poderá continuar seu diálogo com outras almas. Sua coragem e serenidade diante da morte transformam a Apologia de Sócrates em uma verdadeira lição de vida.
A obra continua sendo lida e estudada há mais de dois milênios porque nos convida a refletir sobre temas atemporais: o que é viver com virtude, o valor da liberdade de pensamento e a importância do autoconhecimento. A Apologia de Sócrates é, portanto, um convite à filosofia em seu sentido mais genuíno — uma busca constante pela verdade, pela justiça e pela integridade moral.
Você vai gostar de ler Apologia de Sócrates.
Platão (427 a.C. – 347 a.C.) foi um dos filósofos mais importantes da história e um dos pilares da filosofia ocidental. Nascido em uma família aristocrática de Atenas, ele recebeu uma educação esmerada, com formação em música, poesia, ginástica e filosofia. Inicialmente interessado pela política, Platão abandonou essa carreira ao testemunhar a injusta condenação à morte de seu mestre, Sócrates, evento que marcou profundamente sua vida e pensamento.
Discípulo de Sócrates, Platão dedicou-se a registrar os diálogos filosóficos do mestre, tornando-se sua principal fonte de conhecimento para as gerações futuras. Após a morte de Sócrates, viajou por diversos lugares, incluindo Egito, Sicília e Magna Grécia, onde entrou em contato com os ensinamentos de Pitágoras e outras correntes filosóficas. Essas experiências influenciaram seu pensamento sobre ética, política, metafísica e teoria do conhecimento.
Gostou de ler Apologia de Sócrates ? Leia também Wittgenstein e o problema da harmonia entre pensamento e realidade
Ainda não há resenhas.