Um Casamento por Amor com o Sheik
- dezembro 26, 2025
Quem narra esta história é uma menina de 11 anos. Está presente o olhar leve e irônico de quem ainda percebe a vida como um enigma, mas não se engane: a solidão de Maria Carmem é profunda.
Aprendiz de escritora, atravessando as inquietações da chamada “pior fase da vida”, ela mostra que uma criança pode, sim, ser mais solitária do que um idoso — especialmente uma menina que cresce cercada pelas perguntas e pelos silêncios de uma “loja de velhos”.
Ali, as coisas já parecem nascer gastas, ao mesmo tempo vivas e densas, carregando a doçura áspera da poesia mais resistente. Maria Carmem veio ao mundo por último. E, afinal, o que a idade realmente importa? Como ela própria observa, “um lápis pode até parecer novo, mas estar todo quebrado por dentro”.
É desse jeito — fragmentada por dentro — que ela desmonta o mundo ao seu redor: o universo adulto, que cria regras sem segui-las; a escola; tudo. Em uma aula de matemática, por exemplo, o exercício pedia que um menino e uma menina calculassem quantas laranjas levar a um passeio, considerando quanto cada convidado comeria. Maria Carmem respondeu que não era preciso levar nenhuma, porque tudo é mentira, ninguém vai a parque algum nesta vida.
Assim, ela transforma perguntas em poesia, costurando reflexões sobre tudo o que se constrói e se desfaz: os pais, Deus, o amor, o corpo, a morte e a dificuldade de compreender o afeto alheio.
Quando crescer, Maria Carmem será escritora. Mas ela já cresceu — e já é. Este livro é um gesto generoso de sua poesia, um convite para que cresçamos junto com ela.
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